Luzimara era uma abelha.
Dentro da sua organização exercia a posição da operária. Luzimara trabalhava muito. Feito um cão, ou melhor, feito uma abelhinha operária mesmo.
Nas reuniões que participava sempre levava seu computador, pois não poderia perder um e mail ou tinha que terminar um relatório (ou simplesmente tinha que se mostrar ocupada). Um abelha operária que não está sempre ocupada não é um bom sinal. Todas as abelhas operárias devem seguir esta rotina.
As operárias estão sempre em reuniões, sempre respondendo algum e mail, seja no notebook ou smartphone. Reunião com algum fornecedor, somente se a abelha rainha recomendar ou se a toda poderosa estiver participando também.
O destino da abelha operária, por mais que se esforce, é morrer como abelha operária. Dificilmente Luzimara tinha tempo na sua agenda para sair da colmeia e ver o mundo lá fora. Sua agenda nunca permitia. Na verdade, ela nunca permitia que houvesse esse tipo de espaço na sua agenda.
Ter tempo sempre foi uma questão de escolha.
Mas um dia a abelha rainha percebeu que a colméia não estava tendo uma boa performance na produção de mel e resolveu fazer uma mudança nas abelhas operárias.
Luzimara, atordoada, teve que sair da colmeia e procurar um novo e seguro espaço para seguir a sua rotina.
Com tempo sobrando, agora ela não tinha mais e mails para responder, relatórios para fazer e muito menos reuniões para participar, o crachá com o sobrenome da colmeia também não tinha mais. Restou apenas o que ela construiu nos últimos anos. Luzimara se deu conta que, o que ela havia construído foi tudo para a colmeia.
Luzimara então, atualizou sua conta no LinkedIn, mandou invites para seus contatos e fornecedores para se relacionar e tomar aquele melzinho.
Mas que relação ela construiu nestes últimos anos? Que imagem ela formou?
De uma inatingível abelha operária sem tempo para conversar, criar relacionamentos e pensar no seu futuro, Luzimara se tornou apenas mais uma entre tantas. Agora ela descobre que há vida fora da colmeia.
Só agora.
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